Coisas que chocam…
Era uma tarde de Sábado, fria e cinzenta, cortada por um
vento agreste, e poucos eram aqueles que
se atreviam a enfrentar os rigores do tempo.
Não me apetecia ficar em casa, pelo que peguei um livro e a
minha inseparável câmara fotográfica, meti-me no carro, e fiz-me à estrada.
Apetecia-me ir até à
beira-mar, sentir o agreste do tempo daquela tarde de sábado.
Ali chegado, estacionei, arranjei posição para o corpo, e
recomecei a ler o livro desde onde o havia interrompido (Rosas de Atacama).
Um
bando de gaivotas barulhentas chamou-me a atenção. Havia parado de chover.
Peguei na câmara, desci ao areal, e fui até à zona de
rebentação, obter algumas imagens da força dos elementos.
Sabia-me bem andar na areia molhada e sentir a bruma a
invadir-me o rosto, numa praia apenas habitada por gaivotas.
Depois de me ter afastado e muito, e porque o céu começava
de novo a carregar de cinzento, decidi subir à estrada, e dirigi-me ao carro,
que estava bem longe.
Naquele passeio, só eu…
E um vulto distante,
que se ia aproximando.
Era um homem de muita idade, curvado pela força dos anos, e
apoiado numa bengala…
-Talvez uma imagem a reter!
Sentei-me no muro, com a câmara preparada, discretamente
pousada nas pernas, e aguardei pelo homem que ainda vinha longe, enquanto o
ia observando na sua penosa aproximação.
Quando a distância era suficientemente curta, para que eu
lhe distinguisse o rosto…
Detive-me!
Não fui capaz de disparar…não tinha o direito de o fazer!...
O Homem de muitos anos de idade e barba de muitos dias,
trazia lágrimas nos olhos..........., mas, coisa estranha... ou talvez não;
quando passava, olhou-me e sorriu... Um sorriso triste, mas mesmo assim, um
sorriso.
E a
sua caminhada, a sua maratona continuou, enquanto se ia afastando, agarrado à bengala e a um saco de
plástico azul.
Que levaria o Homem dentro do saco?
Retalhos de vida?... Sonhos?... Ou tão só, pedaços de pão
para o jantar?
Será que nos assiste o direito de nos queixarmos tanto da vida?
É que, apesar das lágrimas, este Homem, sorriu...um sorriso
triste, é certo...mas mesmo assim, um sorriso.
Um abraço e fiquem de bem com a vida…
A.MAR…