domingo, 18 de dezembro de 2011


Coisas que chocam…


Era uma tarde de Sábado, fria e cinzenta, cortada por um vento agreste, e poucos eram aqueles  que se atreviam a enfrentar os rigores do tempo.
Não me apetecia ficar em casa, pelo que peguei um livro e a minha inseparável câmara fotográfica, meti-me no carro, e fiz-me à estrada.
 Apetecia-me ir até à beira-mar, sentir o agreste do tempo daquela tarde de sábado.
Ali chegado, estacionei, arranjei posição para o corpo, e recomecei a ler o livro desde onde o havia interrompido (Rosas de Atacama).


Um bando de gaivotas barulhentas chamou-me a atenção. Havia parado de chover.
Peguei na câmara, desci ao areal, e fui até à zona de rebentação, obter algumas imagens da força dos elementos.


Sabia-me bem andar na areia molhada e sentir a bruma a invadir-me o rosto, numa praia apenas habitada por gaivotas.

Depois de me ter afastado e muito, e porque o céu começava de novo a carregar de cinzento, decidi subir à estrada, e dirigi-me ao carro, que estava bem longe.

Naquele passeio, só eu…
 E um vulto distante, que se ia aproximando.
Era um homem de muita idade, curvado pela força dos anos, e apoiado numa bengala…
-Talvez uma imagem a reter!

Sentei-me no muro, com a câmara preparada, discretamente pousada  nas pernas, e aguardei pelo homem que ainda vinha longe, enquanto o ia observando na sua penosa aproximação.
Quando a distância era suficientemente curta, para que eu lhe distinguisse o rosto…
Detive-me!
Não fui capaz de disparar…não tinha o direito de o fazer!...
O Homem de muitos anos de idade e barba de muitos dias, trazia lágrimas nos olhos..........., mas, coisa estranha... ou talvez não; quando passava, olhou-me e sorriu... Um sorriso triste, mas mesmo assim, um sorriso.
E a sua caminhada, a sua maratona continuou, enquanto se ia  afastando, agarrado à bengala e a um saco de plástico azul.


Que levaria o Homem dentro do saco?
Retalhos de vida?... Sonhos?... Ou tão só, pedaços de pão para o jantar?

Será que nos assiste o direito de nos queixarmos tanto da vida?
É que, apesar das lágrimas, este Homem, sorriu...um sorriso triste, é certo...mas mesmo assim, um sorriso.
Um abraço e fiquem de bem com a vida…

A.MAR…

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